"Pelas 10 horas de hoje realizou-se uma grande concentração de Pescadores de Armação de Pêra em frente ao edifício da lota, reveladora do descontentamento e insegurança que actualmente estão a viver.
Os pescadores debatem-se no presente com a falta de um local para a venda do pescado, e não dispõem de transporte adequado do peixe para as lotas mais próximas.
Sem condições de trabalho, está em causa a própria sobrevivência de toda uma comunidade que, desde sempre arrancou do mar o seu sustento.
O desespero está presente. A angústia do amanhã tomou conta desta comunidade, que se vê confrontada com a falta de apoio tão enfraquecida que está, sem alternativa para exercer de forma aceitável a única profissão que conhecem desde tenra idade.
Compete ao poder político local proporcionar as condições mínimas para que estes homens possam trabalhar sem medo e sem estarem sujeitos a multas, ou humilhações públicas que ultimamente têm ocorrido.
Que se saiba, as Autarquias locais, pela proximidade com as populações tem um papel fundamental a desempenhar na criação de melhores condições de trabalho e de vida. Têm de estado atentas aos problemas dos pescadores, empenhadas com eles no desbravamento de soluções para os problemas que a Comunidade enfrenta.
Voz de Silves: A primeira pergunta que gostaríamos de fazer á Tânia Oliveira, presidente da Associação de Pescadores de Armação de Pêra prende-se com as condições de trabalho da comunidade piscatória.
Tânia Oliveira: A situação é desesperante. Todos os dias, nos debatemos com muitas dificuldades. Todos os dias jogamos a nossa sobrevivência. Quando saímos para o mar, nunca sabemos o resultado do nosso dia de trabalho. Mas as despesas, essas são sempre certas.
Debatemo-nos com a redução do pescado capturado, e quando chegamos a terra que, deveria ser o nosso porto seguro, enfrentamos o inferno.
Desde logo, é a grande luta para conseguir gelo que nos é cedido gratuitamente pelos comerciantes locais que compreendem as nossas dificuldades e sempre nos apoiaram Quero assim, aqui, publicamente, registar em, nome da Associação que represento, todo o nosso agradecimento. Sem esse apoio, tudo seria ainda mais difícil.
Voz de Silves: E, como fazem o escoamento do peixe?
Tânia Oliveira: Esse é o nosso maior problema.
Com o encerramento do posto de vendagem da Docapesca, ocorrido em 11 de Junho último, ficamos entregues a nós próprios. São os pescadores que fazem o transporte do pescado. Não todos, apenas aqueles que têm carta de condução e veículo, e sempre correndo riscos por estarmos a fazê-lo.
Só que se tal não for feito, não pagamos as nossas despesas e não temos comida no prato.
Voz de Silves: Mas, segundo julgo saber, foi apresentada uma candidatura ao PROMAR ( fundos comunitários), através do GAC de Portimão, para aquisição de uma carrinha de transporte do peixe. Quer informar-nos do ponto da situação?
Tânia Oliveira: Como não temos meios económicos para assegurar a nossa pretensão, contactamos a Câmara Municipal de Silves que, em 02 de Dezembro de 2010, assumiu o compromisso de apresentar a candidatura e adquirir a carrinha para os pescadores de Armação de Pêra.
Lamento constatar que, estando a candidatura já aprovada há cerca de 3 meses, a Câmara Municipal ainda não tenha comprado o veículo.
O que, para nós, tem sido um verdadeiro calvário. Pois, cada dia que passa, nos sentimos mais fragilizados e sem meios de sobrevivência.
Tenho conhecimento das dificuldades que grande parte dos pescadores atravessa. Muitos estão a viver no limiar da pobreza, daí que não há tempo a perder. Algo tem que ser feito, e já. Os pescadores merecem o respeito de todos e devem ser ajudados.
Voz de Silves: Mas, como explica que a carrinha ainda não tenha sido comprada e entregue á Comunidade?
Tânia Oliveira: Essa pergunta tem que ser dirigida á Drª. Isabel Soares e ao Vereador Rogério Pinto. Eles é que gerem a Câmara, e só eles podem responder.
No que nos toca, apenas posso dizer que o nosso desespero aumento em cada minuto que passa, sem o transporte de que precisamos.
Voz de Silves: Se a situação é assim tão aflitiva, como disse, perguntava-lhe quais as medidas que devem ser tomadas no imediato?
Tânia Oliveira: Em primeiro lugar a garantia por parte das Entidades responsáveis que os pescadores consigam pôr a funcionar a lota de Armação de Pêra, como posto de recepção e transporte de pescado.
Para isso, necessitamos do apoio do poder político local. A Junta de Freguesia e a Câmara Municipal têm um papel fundamental a desempenhar, de forma a garantir a sustentabilidade desta comunidade.
Em segundo lugar, que nos seja dado apoio legal para garantir que o pescado que não têm valor em lota, seja vendido directamente por quem, se sacrifica com muito trabalho e poucos rendimentos, o pescador.
Voz de Silves: Qual o papel que a Docapesca tem tido em todo este processo?
Tânia Oliveira: Ainda bem que me é dada a oportunidade de testemunhar a forma como a Docaspeca nos tem tratado. Temos tido uma relação de proximidade, diálogo e compreensão.
Repare, que o encerramento do posto de vendagem de Armação de Pêra, estava previsto para Dezembro de 2010. Só que a Direcção da Docapesca, na pessoa da Senhora Engenheira Helena Cardoso, compreendendo a nossa situação, e com elevado sentido humanista, conseguiu adiar até ao passado mês de Junho o fim da lota.
Esperou todo este tempo, pela carrinha que ainda não apareceu…
Voz de Silves: Sente-se desanimada com o que se está a passar?
Tânia Oliveira: Estamos desesperados, mas não podemos baixar os braços. Os pescadores são pessoas normais têm família e filhos. Não sabem fazer mais nada do que ir ao mar, lutar pela sobrevivência.
O que precisamos é que nos dêem condições. Nós, pescadores somos trabalhadores.
Aliás, o que queremos e pedimos é que nos deixem trabalhar.
Apelo assim ao bom senso de todos. Ajudem-nos mas façam-no já…não nos deixem morrer na praia".
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